A primeira vez que ouvi falar da Tunísia ligada a qualquer esporte foi na Copa do Mundo de futebol de 1978. Classificavam-se só 16 seleções na época, o que tornava ainda mais improvável a presença de quem não tinha tradição. Até então, tudo o que eu sabia do país era o que o mapa-múndi me mostrava: norte da África, território desértico, capital Túnis, bandeira vermelha e branca com lua e estrela. E mesmo depois da surpreendente campanha, com vitória sobre o México, empate com a Alemanha e derrota para a Polônia, a possibilidade de um confronto entre um time tunisiano e um brasileiro parecia a anos-luz de distância – mais ou menos o que separava Flamengo e Espérance na Filadélfia.
Foi o rubro-negro Jorge Ben Jor que acrescentou dinheiro no bolso à expressão popular “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”, na letra de “Engenho de Dentro”. Portanto, era preciso lembrar que o Inter fora campeão mundial há pouco tempo quando perdeu para o Mazembe; que o Atlético-MG tinha Ronaldinho Gaúcho na derrota para o Wydad Casablanca; e que o próprio Flamengo já era rico e poderoso ao parar no Al Hilal (bem mais endinheirado do que os outros citados, mas ainda assim visto como azarão). Só que também não dava para ignorar que o valor de mercado dos jogadores rubro-negros, desta vez, era dez vezes maior do que o dos rivais.
Nem o técnico do Espérance se iludiu. Quando ouviu os elogios de Filipe Luís à tradição de seu clube, reagiu dizendo algo como “Muito legal, mas não vou levar em consideração”. E a torcida que lotou a Times Square cantando que ia fumar e depois ganhar do Flamengo (e levou todo aquele barulho para o estádio) já devia estar sabendo que a tendência era ficar só na fumaça mesmo. A tentação de fazer um trocadilho com esperança é enorme, mas vou me segurar.
Prefiro focar no fato de que não foi 10 a 0, porque um orçamento dez vezes maior não transforma um time em Bayern de Munique e o outro em Auckland City. O Flamengo começou o jogo se plantando no campo de ataque, como costuma fazer, mas a defesa foi mais incomodada do que se esperava no segundo tempo. E se Arrascaeta voltou a ser decisivo e Jorginho estreou muito à vontade, Pedro continuou perdido no esquema de Filipe Luís e Gerson produziu pouco (efeito Zenit?). Entre os altos e baixos comuns a uma estreia, construiu-se uma vitória segura, que leva o time para o confronto com o Chelsea em condições de igualdade no saldo de gols – o que, evidentemente, não anula a enorme diferença financeira e de poderio esportivo, que dessa vez estarão do lado do adversário.