Para o consumo interno do Mundial de Clubes , o choque entre o futebol europeu e o sul-americano sempre foi o principal ponto de interesse. Se não é razoável – e não é mesmo, independentemente do que a fase de grupos tem mostrado – apontar um clube da região de pé de obra talentosa e barata como candidato ao troféu, a nova versão do torneio da Fifa oferece um generoso e diverso cardápio de enfrentamentos. Os adversários da elite brasileira e argentina são clubes de camadas diferentes do jogo na Europa. O Palmeiras poderia ter vencido o terceiro colocado da Liga Portuguesa; o Fluminense deveria ter vencido o quarto colocado do Campeonato Alemão; o Boca Juniors encarou o vice-campeão português e o Botafogo , claro, acertou o golpe mais forte desta edição ao derrotar o melhor time do mundo.

Talvez não seja apropriado afirmar que cada um desses encontros elevou o padrão de exigência do que viria a seguir, uma vez que o futebol não permite a transferência de dificuldades – ou ausência delas – entre jogos protagonizados por equipes diferentes, mas, pelo menos aos olhos da opinião pública, é natural que a cobrança aumente a cada dia em um torneio que tem entregado muito mais do que se previa. Sob este aspecto, o segundo jogo do Flamengo , que já era uma atração de alto perfil antes do Mundial começar, ficou ainda mais interessante. O Chelsea – quarta posição na Premier League, 15 pontos atrás do campeão – não está no nível do Paris Saint-Germain , mas olha o Porto e o Borussia Dortmund de cima para baixo.

A atuação do Flamengo na Filadélfia justificou as declarações de Filipe Luís e Danilo, que, na véspera, disseram que o time brasileiro tinha se preparado para ser dominante. De fato, seria difícil compreender uma alteração radical na forma de jogar não por questão puramente estratégica, mas por que o Flamengo, como equipe, tem futebol para levar o jogo ao adversário inglês. Não foi uma surpresa – ou uma casualidade, fenômeno que também explica resultados – o que se viu em campo, seja enquanto a diferença no encontro era um equívoco de Wesley ou a imperícia de Gonzalo Plata. A partir do gol de Bruno Henrique, o Flamengo se estabeleceu como o time que dava as cartas, acrescentando o como ao o quê .

Filipe Luís será elogiado, com óbvia justiça, pelas substituições que colaboraram diretamente para a virada, mas seu grande mérito foi trabalhar na personalidade de equipe que caracteriza seu time , com as escolhas de jogadores mais apropriados para lidar com um oponente jovem e veloz como o Chelsea. Para além do resultado, o torcedor rubro-negro, no estádio ou pela televisão, reconheceu seu time do início ao final do jogo. Como bônus, o time também reconheceu sua torcida, não só presente como participante do espetáculo de forma a aproximá-lo dos ambientes domésticos em que o Flamengo se apresenta.

A vida andou rápido para o Chelsea, que , horas depois de deixar de ser o último campeão europeu a cair para um adversário brasileiro, se tornou o primeiro time da elite do jogo a se ver superado em campo como não acontecia desde os tempos em que a disparidade econômica não determinava o final de encontros dessa natureza.

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